sábado, 25 de agosto de 2012

Jesus no Santíssimo Sacramento não deseja senão dispensar graças

Por Santo Afonso Maria de Ligório


Mecum sunt divitiae… ut ditem diligentes me, et thesauros eorum repleam — «Comigo estão as riquezas, para enriquecer os que me amam e encher os seus tesouros» (Prov 8, 18; 21)


Sumário. Porque Jesus Cristo é a bondade infinita, tem desejo extremo de nos comunicar seus bens, e está sempre pronto a fazer-nos bem. Ensina contudo a experiência que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia Jesus dispensa as graças mais fácil e abundantemente. Felizes, portanto, de nós se, conformo no-lo permitir nosso estado, procurarmos frequentemente visitá-lo, entreter-nos com ele e recebê-lo em nosso peito! A graça que sobretudo lhe devemos pedir é que nos abrase mais e mais em seu santo amor.


I. Consideremos como Jesus na Eucaristia dá audiência a todos, para a todos fazer bem. Segundo Santo Agostinho, o Senhor deseja mais dar-nos suas graças do que nós recebê-las. A razão é que Deus é infinitamente bom, e a bondade da sua natureza é expansiva, de sorte que tende a comunicar seus bens a todos. Deus se queixa das almas que lhe não vão pedir graças. «Porque», diz ele, «não quereis mais vir a mim? Tenha sido para vós terra estéril ou tardia, quando me pedistes favores?» — Quare ergo dixit populus meus: Non veniemus ultra ad te? (Jer 2, 31). São João diz que viu o Senhor cingido aos peitos com um cinturão de ouro, querendo Jesus sob essa figura mostrar-nos a multidão de graças que em sua misericórdia nos deseja conceder: Vidi praecinctum ad mamillas zona aurea (Apoc 1, 13). Jesus Cristo está sempre disposto a fazer-nos bem; mas, diz o discípulo que é especialmente no Santíssimo Sacramento que dispensa suas graças com maior abundância. E o Bem-aventurado Henrique Suso dizia que na Santíssima Eucaristia Jesus atende de melhor vontade às nossas súplicas.


Assim como uma mãe corre aonde está seu filhinho para nutri-lo e aliviá-lo de seu leite, assim o Senhor, lá do sacramento do Amor, nos chama para si e diz: «Sereis como meninos que sua mãe aperta com ternura sobre o seio» — Ad ubera portabimini… Quomodo si cui mater blandiatur, ita ego consolabor vos (Is 66, 12-13). O Padre Baltazar Álvarez viu a Jesus no Santíssimo Sacramento com as mãos cheias de graças, procurando distribuí-las, mas não havia quem as quisesse. Oh, feliz da alma que fica ao pé do altar, afim de pedir graças a Jesus Cristo! Dentro de pouco tempo subirá ao mais alto grau de perfeição, e ficará enriquecida de méritos imensos para o céu.


II. Ó insensatos mundanos, exclama Santo Agostinho, desgraçados, onde ides buscar contentamento para o vosso coração? Vinde a Jesus; só ele vos pode dar a felicidade que buscais. E tu, minha alma, não sejas do número destes insensatos; busca a Deus só, que encerra todos os bens. E, se o queres já, ei-lo aqui perto de ti no Santíssimo Sacramento. Dize-lhe o que quiseres, porque para te consolar e ouvir é que ele está neste cibório. — Pede-lhe sobretudo o dom de seu divino amor. Feliz de ti, se Jesus Cristo fizer o favor de abrasar-te todo em seu amor. Então, de certo, não amarás, mas desprezarás todas as coisas terrestres.


Ah, meu Jesus! fazei-Vos conhecer e amar! Sois tão amável e tudo esgotastes para Vos fazer amar dos homens; como, pois, são tão poucos entre eles os que Vos amam? Ai! tive eu mesmo a desgraça de ser do número desses ingratos! Fui grato às criaturas que me fizeram algum favor; somente para convosco, que Vos destes a mim, levei a ingratidão até ao ponto de Vos desagradar muitas vezes gravemente, e de Vos ultrajar com os meus pecados. Contudo, vejo que, em vez de me abandonar, persistis em me procurar e pedir o meu coração. Sinto que continuais a intimar-me o preceito amoroso: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo (Mat 22, 37) — «Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração».


Já que, apesar da minha ingratidão, quereis ainda ser amado por mim, tomo a resolução de Vos amar. Desejais meu amor, e eu também, pelo socorro da vossa graça, não desejo outra coisa senão amar-Vos. Amo-Vos, meu amor, meu tudo; † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas. Ajudai-me a amar-Vos, pelo Sangue que por mim derramastes. Meu amado Redentor, nesse Sangue precioso é que ponho todas as minhas esperanças, e também na intercessão da vossa Mãe Santíssima, cujas orações quereis concorram para a nossa salvação. — Ó Maria, minha Mãe, rogai a Jesus por mim; inflamais com amor divino todos os que vos amam: abrasai-me também, a mim que tanto vos amo. (*II 168.)


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Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.33-35.

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