quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Mãe de São Bernardo



A bem-aventurada Aletha teve sete filhos que foram todos santos. O mais velho de seus filhos se chamava Guido e a este se seguiam Gerardo, Bernardo, André, Bartholomeu, Nivardo e uma filha chamada Umbelina. Os contemporâneos que pessoalmente  conheceram esta nobre família são unânimes em prestar grandes tributos de veneração a cada um de seus membros.
Eis o que diz um piedoso cronista do século XII, abade de Saint-Thierry.
“O filho mais velho de Aletha tinha um caráter grave e justo. Amado de Deus e cheio de modéstia, era dotado de uma notável inteligência que brilhava em todos os seus atos como em todas as suas palavras. Gerardo, o segundo filho, gozava da estima geral; tinha costumes simples e castos e uma rara prudência junto a uma não menos rara penetração de espírito. Bernardo, o terceiro, farol e modelo de seus irmãos, tornou-se uma forte coluna da Igreja.
André, o quarto, tinha uma alma ingênua e terna, temente a Deus e infensa ao mal. Bartholomeu, na flor da idade, em saber e prudência avantajava os velhos e possuía todas as qualidades de uma vida sem mácula. Nivardo, o mais moço, preferiu os bens do céu às riquezas da terra. Umbelina, nascida em último lugar, soube fugir às atrações da vaidade mundana e chegou a ombrear em virtudes com os seus irmãos”.

A digna mãe dessa grande família de santos pode a todos os respeitos ser oferecida como um tipo das mães cristãs. É verdade que ela teve a vantagem inapreciável de viver em uma época em que as famílias reproduziam, tanto quanto era possível, a imagem da santa casa de Nazaré.
A Igreja com a sua divina inteligência, regulava a vida privada do mesmo modo que a vida publica, fixava os princípio, da educação e intervinha nas relações civis para as nobilitar e consagrar; de sorte que tudo concorria para fomentar a fé, fortalecer a virtude, exaltar os corações e incitar o amor dos grandes cometimentos.
O papel da mulher, nessa obra de civilização cristã, era verdadeiramente belo. A religião determinava todos os seus deveres; e dignificava-os. A mãe não julgava terminada a sua tarefa depois de ter provido a todas as coisas da vida temporal: as suas vistas se erguiam mais alto e a sua ação se estendia mais longe. Mãe cristã, ela iniciava na vida da graça aqueles a quem tinha dado a vida material, e a sua felicidade, como a sua glória, consistia em os ver progredir na virtude ao mesmo tempo que cresciam em idade.
“A mãe de S. Bernardo — diz um santo bispo — tomava os seus filhos nos braços, logo após o nascimento, para os oferecer a Jesus Cristo; e amava-os desde então com respeito, como si fossem um depósito santo que Deus lhe houvesse confiado. E disto resultou tornarem-se santos os sete filhos que teve.
 Felizes os filhos que se desenvolvem sob esta influencia cristã e maternal! Aletha havia desposado, muito jovem ainda o nobre Teulino, senhor de Fontaines, perto de Dijon. Ela tinha quinze anos apenas e já a sua alma, inspirada pela graça, visava um outro destino. Mas a Providência destinara-a a ser esposa e mãe e propagar em sua numerosa família as bênçãos que a enchiam. O seu mais ardente desejo foi transmitir ao coração de seus filhos a vocação religiosa que ela havia apreciado tanto em seus primeiros anos. Unida profundamente a Jesus Cristo, fonte de todo o amor, ela comunicava a seus filhos, com o leite maternal, uma virtude toda celeste ; formou-os para o céu bem mais do que para a vida deste mundo e ensinou-lhes, desde a mais tenra idade, a discernir o bem e o mal, a preferir o melhor e a amar acima de tudo o Pai das misericórdias e das eternas consolações. Esta piedosa mãe era como um anel sagrado que ligava seus filhos a Deus, prendendo-os à Igreja e fixando-os na vida de salvação eterna. Ensinava-lhes a amar, a rezar e a esperar, inspirando-lhes o temor de Deus, a confiança e o reconhecimento, o horror do mal e o desejo da virtude e da santidade. Aletha havia estabelecido no interior da sua casa a ordem perfeita e a disciplina prescrita pelas santas leis da Igreja. Eu não posso esquecer, diz o já citado biógrafo, quanto se esforçava esta distinta mulher por servir de exemplo e modelo a seus filhos. Dentro ou fora da sua casa, ela imitava de algum modo a vida religiosa pelas suas abstinências, pela simplicidade do seu vestuário e pelo seu afastamento dos prazeres e das vaidades do século. Furtava-se o quanto possível às agitações exteriores, observando os jejuns e as vigílias, perseverando na oração e resgatando por obras de caridade o que podia faltar à perfeição de uma pessoa ligada à sociedade por diferentes laços.
Compreendem-se as impressões profundas que estes exemplos edificantes deviam ter gravado nas jovens almas que diariamente os testemunhavam. A fidelidade que os pais guardam à autoridade da Igreja é para os filhos o melhor meio de consagrar a fidelidade a todos os outros deveres.
Aletha amava os seus com uma ternura desinteressada, sem nada ter desse egoísmo natural que procura nisto a sua própria satisfação e, cultivando as ricas faculdades de seus filhos, evitava provocar-lhes à superfície do espírito certa florescência precoce e brilhante que lisonjeia a vaidade, mas que não produz nenhum fruto. A historia refere que ela os habituava a uma prática generosa de renunciação e de sacrifício; que procurava ensinar-lhes a mais útil de todas as ciências, a de sofrer com calma e dignidade; e que se aplicava sobretudo a fazer reinar entre eles, por um constante exercício de caridade fraternal, uma santa harmonia de gostos, de costumes, de ideias e de simpatias.
A austeridade desta educação cristã, temperada por tudo o que há de afetuoso e de suave no coração de uma mãe, desenvolveu as qualidades doces e vigorosas que se admiram em Bernardo e em seus Irmãos. Cada um deles manifestou as mais solidas aptidões e as mais nobres faculdades. Mas, entre as virtudes destes filhos abençoados, a piedade filial reluziu sempre como um diamante no meio das mais ricas pedrarias.
S. Bernardo, ainda mais que seus irmãos, prezava sua mãe e se deleitava com a unção religiosa do coração maternal. Bem jovem ainda, ele imitava em segredo as boas obras de sua mãe, apiedava-se dos pobres e dos aflitos, era serviçal para os irmãos e condescendente, obsequioso para todos e, pelos seus progressos de cada dia, na carreira da virtude, preludiava a santidade que mais tarde lhe encheu a vida de celestial magnificência.
Um outro contemporâneo faz ver o quanto a venerável matrona era solicita em acudir a toda a espécie de infortúnios Aletha não se limitou a acolher os pobres com bondade; visitava-os nas choupanas, pois neste ofício de caridade gostava de fazer tudo por si mesma e servia os enfermos nos hospitais, distribuindo a uns e a outros remédios e vestidos e oferecendo a todos os perfumes das consolações evangélicas. Si fossemos a narrar tudo o q ela fazia — acrescenta o biógrafo — talvez não acreditassem (1).
Progredindo, dia a dia, de virtude em virtude, ela estava completamente preparada à sua última hora. Bernardo tinha vinte anos somente, quando Deus a levou. Foi um golpe terrível para o seu jovem coração, porque, nesta quadra da vida, a piedade filial está como que em plena florescência. O filho, nos seus primeiros anos, ama a sua mãe sem avaliar o preço de uma mãe; ama-a infantilmente, quase que por instinto apenas. Mas na mocidade já ele sabe apreciar a mãe, e à sua extrema ternura se junta uma estima, uma confiança, um respeito que nenhuma frase poderia exprimir. A morte da venerável Aletha foi rodeada de circunstâncias tão tocantes que as não devemos omitir aqui. Por isso vamos deixar falar um santo monge que assistiu a esta comovente cena e que com toda a singeleza a conta:
“A mãe venerabilíssima do abade de Claraval costumava celebrar todos os anos magnificamente a festa de Santo Ambrósio, padroeiro da igreja de Fontaines, com um banquete solene para o qual todo o clero era convidado. Deus, querendo recompensar a particular devoção desta santa mulher pelo glorioso Ambrósio, fez-lhe conhecer por meio de uma revelação misteriosa que ela havia de morrer no mesmo dia da festa. Certamente que não é para espantar que uma tão digna cristã fosse dotada do espírito de profecia. Aletha disse então tranquilamente e com segurança a seu esposo, a seus filhos e a toda a sua família reunida que o momento da sua morte era próxima.
“Todos, estremecendo embora, recusaram crer o sombrio anúncio, mas não tardou que a realização deste dolorosamente os alarmasse. Na véspera de Santo Ambrósio, Aletha foi atacada de uma febre violenta. No dia seguinte, que era o da festa, pediu humildemente que lhe trouxessem o Sagrado Corpo de Jesus Cristo e depois de receber o Santíssimo Viático e a Extrema Unção, sentindo-se confortada, instou para que os eclesiásticos convidados não faltassem ao festim. Quando eles se achavam à mesa,  Aletha mandou chamar Guido, seu filho mais velho, e recomendou-lhe que fizesse entrar no quarto, depois do banquete, todos os membros do clero que ali estavam. Guido executou fielmente o que a sua piedosa mãe lhe havia ordenado.
"Estávamos todos reunidos em torno do seu leito, quando a serva de Deus nos declarou com ar sereno que era chegado o seu último momento. Ajoelhamo-nos logo todos a rezar a ladainha que Aletha ia também entoando enquanto tinha voz. Mas no instante em que o coro pronunciou esta frase: “Per passionem et crucem tuarn, libera eam, Domine”, a agonizante, recomendando-se ao Senhor, ergueu a débil mão para fazer o sinal da cruz e, parando nesta atitude, rendeu a sua santa alma que os anjos receberam e levaram para a mansão dos justos. É ai que ela espera, na paz de Deus, o despertar do seu corpo no grande dia da ressurreição, quando o supremo Juiz vier julgar os vivos e os mortos e o século pelo fogo.
“Foi assim que esta alma santificada deixou o santo templo do seu corpo; a mão direita permaneceu erguida na mesma posição em que estava quando ela fez o seu último sinal da cruz, o que impressionou muito a todas as pessoas presentes.
“A feliz transmigração desta mulher cristã foi objeto de jubilo entre os anjos do céu; mas cá na terra este acontecimento mergulhou na desolação os pobres de Jesus Cristo, as viúvas e um grande número de órfãos que ela protegia” (2).
Esta narração singela e tocante indica só por si a perfeita delicadeza do gênio desses séculos de ardente fé.
Sobre a lápide funerária da cripta de São Benigno, onde foram depositados os restos da Bem-aventurada Aletha. um piedoso escultor gravou o retrato de cada um de seus filhos. Mãe nenhuma teve jamais um epitáfio tão eloquente como este da mãe de São Bernardo.
A morte não termina, porém, a missão augusta de uma mãe piedosa. Esta missão se perpetua, debaixo de outra forma, no mundo angélico.
Na vida do grande S. Bernardo nós encontramos irrecusáveis provas das relações que subsistiram além do túmulo, entre a bem-aventurada Aletha e seus filhos.
Ela apareceu visivelmente a S. Bernardo, segundo o testemunho de um doutor contemporâneo, dizendo-lhe: “Acaba, meu filho, com coragem, o que começaste a fazer: eu te espero na glória divina".
Uma aparição semelhante a esta determinou a vocação do jovem André, irmão daquele santo.
Em um momento em que ele resistia mais obstinadamente às impulsões da graça, exclamou de súbito:Vidi Matrem! “Vi minha mãe!” E, imediatamente, se lançou comovido aos pés do irmão, consagrando-se desde então para sempre ao serviço de Jesus Cristo (3).
 Ó meu divino Salvador! suscita, eu vos conjuro, as mães verdadeiramente cristãs, afim de que os santos apareçam de novo entre nós e a piedade torne a florescer como nos bons tempos de outrora, para consolação da Vossa Igreja. 
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1) Guill. Vl 1º, cap 2º.
2) Joan Ermita, p. 130. Ed. Mabel.
3) Giull. de Santa Thierry, cap.II

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Beata Elisabete da SSma.Trindade


Elisabete Catez nasceu no acampamento militar de Avor (Bourges), em 1880.

Em 1901, entrou no Carmelo Descalço de Dijon, emitindo os votos em 1903. Passou “a luz, ao amor, à vida” da Pátria, em 9 de novembro de 1906.

Verdadeira adoradora em espírito e verdade, entre penas interiores e doenças viveu como “louvor de glória” da Santíssima Trindade presente na alma, encontrando o mistério da inabitação o seu “Céu na terra”, seu carisma e missão eclesial.
  



PÉTALAS DE ROSAS

- Inabalável é minha confiança em tua divina Providência... Jesus, a ti me abandono por completo.

- A minha alma arde e queima com a tua chama incandescente e pura; ó Espírito Santo, consome-a no teu divino amor.

- Visto que é impossível impor a própria vontade aos outros sofrimentos, devo também convencer-me de que o sofrimento físico e corporal não passa dum meio, aliás precioso, para chegar à mortificação interior e ao pleno desapego de nós mesmos.

- A caridade é indispensável. Reconhecemos o cristão pela caridade que ele revela.

- Que alegre mistério a presença de Deus dentro de nós, nestes íntimos santuários de nossas almas, onde sempre podemos encontrá-lo, também quando experimentamos mais sensivelmente a sua presença!

- Procuremos Jesus mediante a pureza de nossa fé.

- Amo tanto a pureza deste mistério da Santíssima Trindade, pois é um abismo em que me perco!

- Deus tem desígnios que nem sempre compreendemos, mas que devemos adorar.

- O abandono, eis o que nos recomenda a Deus. Quando tudo se complica, quando o momento presente é tão doloroso e o futuro me parece mais escuro, fecho os olhos e abandono-me como uma criança no braço daquele Pai que está nos céus.

- Não há outro madeiro capaz, como o da cruz, de acender com grande intensidade na alma o fogo do amor!

- Mais do que a Eucaristia, parece-me que não há nada que nos possa dizer o amor que existe em Deus. É a união consumada, é ele em nós e nós nele.

- Como é lindo ser criança do bom Deus, sempre deixar que ele nos carregue, descansar no seu amor.

- Jesus é o meu tudo, o meu único tudo. Que alegria, que paz este pensamento proporciona a alma.

- A alma necessita de silêncio para adorar.

- O sofrimento é algo tão grande e divino! Parece-me que, se os bem-aventurados no céu pudessem invejar-nos algo, invejar-nos-iam este tesouro. É uma alavanca tão poderosa no coração do bom Deus!

- Jesus continua sempre vivo. Vivo no adorável sacramento do tabernáculo, vivo em nossas almas... Porque vive em nós, façamo-lhe companhia como o amigo faz com o amigo!

- Quanto mais damos a Deus, mais Ele se dá a nós.

- A vida do sacerdote, como a da carmelita, é um advento que prepara a Encarnação nas almas.

- Com que paz, com que recolhimento Maria se aproxima de tudo e fazia todas as coisas! Assim como as coisas mais banais eram, também, por ela divinizadas! Em tudo e por tudo, a Virgem permanecia em Adoração ao bom Deus. E isto não a impedia de prodigalizar-se extremamente, quando se tratava de exercitar a caridade.

- Visto que é o amor que une a alma a Deus, quanto mais intenso é o amor, mais ele entra profundamente em Deus e concentra-se Nele.

- A alma que quer servir a Deus noite e dia no seu templo, quero dizer o santuário interior de que fala São Paulo quando diz: “O templo de Deus é santo e esse templo sois vós”, esta alma deve estar decidida a tomar parte, realmente, na paixão de seu Mestre.

- A alma que vive unida a Deus não age senão sobrenaturalmente, e as ações mais corriqueiras, ao invés de separá-la Dele, aproximar-se-ão sempre mais.

- Oxalá soubesses como o sofrimento é necessário para que se realize em tua alma a obra de Deus!

- A meu ver a alma mais livre é aquela que mais esquece de si mesma. Se me perguntassem o segredo da felicidade, diria que consiste em não se preocupar mais consigo, desprendendo-o a todo momento. Eis uma boa maneira de fazer com que o orgulho morra. É como se o subjugássemos pela fome.

- Vivamos de amor para morrer de amor e glorificar a Deus, todo amor.

- Como é grande o meu desejo de reconduzir almas para Jesus! Daria a minha vida com a única finalidade de contribuir no resgate de uma daquelas almas que Jesus tanto amou.

- A oração é tão poderosa no coração de Deus! Rezemos com perseverança, sem desanimar, mesmo que devêssemos morrer sem sermos atendidos.

- O sofrimento é a escada que nos leva a Deus, ao céu.

- O escapulário é o emblema de Maria. A alma que o traz consigo e que, bem atendido, envida todos os esforços para salvar-se, não pode cair no inferno, pois isto é impossível.

- A Eucaristia é a plenitude transbordante do amor divino. Nela Jesus não nos dá apenas o seu mérito e as suas dores, mas totalmente a si mesmo.

- Como é maravilhoso perder-se, desaparecer em Deus! Sente-se muito bem que não se é mais que instrumento, que é Ele quem age, que é tudo.

- Unir, identificar a nossa vontade com a de Jesus: então somos sempre felizes, sempre contentes.

- No céu não podemos mais sofrer por aquele que amamos. Por isso, aproveitemos agora cada um dos nossos sofrimentos para consolar nosso Dileto.

- Tudo é delicioso no Carmelo: encontramos o bom Deus tanto na lavanderia como na oração. Ele se encontra por toda parte! Vivemo-lo, respiramo-lo.

- Não ser senão um com o bom Deus, significa possuir o céu na fé, aguardando a visão face a face.

- Não precisa parar diante da cruz e olhá-la como ela é; mas, recolhendo-nos na luminosidade da fé, é preciso subir mais alto e refletir que ela é o instrumento que obedece ao amor de Deus.

- Jesus Cristo está sempre vivo em nós, sempre operante em nossa alma. Deixemos que ela nos construa e seja a alma de nossa alma, vida de nossa vida, a fim de que possamos dizer como São Paulo: “Para mim viver é Cristo”.

- Compreendi que meu céu começa na terra, o céu da fé, com o sofrimento e imolação por Aquele que amo.

- Como é belo dar quando se ama! E eu amo tanto esse Deus que é cioso em ter-me toda para si. Sinto tanto o amor que envolve a minha alma, É um oceano no qual mergulho e me perco.

- Uma alma unida a Jesus é um sorriso vivo que o reflete e expande.

- O orgulho alimenta-se do amor-próprio. Pois bem, é preciso que o amor de Deus tão forte, para apagar todo o amor de nós mesmos.

- Parece-me que no céu minha missão consistirá em atrair as almas, ajudando-as a sair de si mesma para aderir a Deus, num impulso espontâneo e amoroso, e de mantê-las naquele grande silêncio interior, que permite que Deus se imprima nelas para que as transforme em si mesmo.

- Tu bem sabes: sem Ti nada sou; mas, se tu me alentas, Senhor, serei capaz de todo o sacrifício.

- No céu de nossa alma, sejamos louvores de glória da Santíssima Trindade, louvor de amor de nossa Mãe Imaculada. Um dia cairá o véu e seremos introduzidos nos templos eternos; lá cantaremos no seio do amor infinito e Deus nos dará o nome novo prometido ao vencedor.

- É preciso amar as almas, procurá-las com verdadeira paixão, pois a beleza é grande. Se nos fosse dado ver a beleza duma alma pura, acreditaríamos ter visto Deus.

- Que fascinação experimento no sofrimento, quando o aceitamos e desejamos! Que abundante fonte de mérito! Não existe um caminho mais seguro do que a cruz. O próprio Deus a escolheu.

- O Rosário é a corrente que nos une a Maria, Com a prática da recitação do rosário... Maria nos estende a mão. Maria dirige a nossa barquinha sobre as ondas agitadas desta vida... E temos a certeza que chegaremos ao porto da salvação eterna.

- Deus em mim, e eu Nele – seja este o nosso lema.

- Encontrei meu céu na terra, nesta querida solidão do Carmelo onde estou sozinha com Deus somente. Faço tudo com Ele e a tudo me dedico com uma alegria divina. Qualquer limpeza, qualquer trabalho ou qualquer oração. Acho tudo belo e delicioso, porque é meu mestre que vejo por toda parte.

- É lá, aos pés da cruz, que sentimos a confiança em Cristo. Todas as obscuridades, todos os nossos sofrimentos acabam prendendo-nos ao nosso único tudo. Purificam-nos a alma para conduzir-nos à união.

  

TRINDADE QUE ADORO

                                                                                                                                 Dos escritos da Beata
ELISABETE DA TRINDADE

Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim mesma para fixar-me em vós, imóvel e pacífica, como se minha alma já estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar-me a paz nem me fazer sair de vós, ó meu imutável, mas que a cada minuto eu me adentre mais na profundidade de vosso mistério. Pacificai minha alma, fazei dela vosso céu, vossa morada preferida e o lugar do vosso repouso. Que eu jamais vos deixe só, mas que aí esteja toda inteira, totalmente  desperta em minha fé, toda em adoração, entregue inteiramente à vossa ação criatura.

Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quisera ser uma esposa para o vosso coração, quisera cobrir-vos de glória, amar-vos... até morrer de amor! Sinto, porém, minha impotência e peço-vos “revestir-me de vós mesmo”, identificar a minha alma com todos os movimentos da vossa, submergir-me, invadir-me, substituir-vos a mim, para que a minha vida seja uma verdadeira irradiação da vossa.Vinde a mim como Adorador, como reparador e como Salvador.

Ó Verbo Eterno, Palavra de meu Deus, quero passar minha vida a escutar-vos, quero ser de uma docilidade absoluta, para tudo aprender de vós. Depois, através de todas as noites, todos os vazios, todas as impotências, quero ter sempre meus olhos fixos em vós e ficar sob a vossa grande luz. Ó meu astro amado,fascinai-me a fim de que não me seja mais possível sair de vossa irradiação.

Ó fogo devorador, Espírito de amor, “vinde a mim” para que se opere em minha alma como que uma encarnação do verbo: que eu seja para ele uma humanidade de acréscimo na qual ele renove todo o seu mistério. E Vós, ó Pai, inclinai-vos sobre vossa pequena e pobre criatura, “cobri-a com vossa sombra”, vendo nela só o Bem-Amado no qual puseste toda a vossa complacência.

Ó meus “Três”, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a vós qual uma presa. Sepultai-vos em mim para que eu me sepulte em vós, enquanto espero ir contemplando em vossa luz, o abismo de vossas grandezas.